Brands that matter: Powerdot, o presente e o futuro do carregamento elétrico
Desde 2018 que a Powerdot tem vindo a trilhar um caminho de crescimento assente na constante procura pela inovação, e com a sustentabilidade no horizonte. Alvo de um recente rebranding, estivemos à conversa com José Maria Sacadura, general manager da Powerdot, que nos revelou a história, a filosofia e a missão da empresa.
Quem é a Powerdot e onde marca presença: apenas em Portugal ou também está noutros mercados? Quais?
A Powerdot é a maior operadora portuguesa de carregadores de veículos elétricos na Europa e tem como missão acelerar a mobilidade sustentável, criando oportunidades de carregamento de veículos da forma mais conveniente. Atualmente estamos presentes em Portugal, Espanha, França, Luxemburgo, Polónia e Bélgica.
Quando nasceu a empresa e a que necessidades do mercado veio ela dar resposta?
A empresa nasceu em 2018 para dar a dupla resposta que faltava aos utilizadores de veículos elétricos: não fazerem desvios para carregar e usarem o tempo de carregamento de forma eficiente.
Como é que isto se consegue?
Tendo carregadores integrados na sua rotina, ou seja, nos locais que os utilizadores frequentam no seu dia a dia. Em suma, o destination charging significa que carregar um elétrico não é algo que tem de ser feito, mas um local aonde já se quer ir. No fundo, mais do que instalar equipamentos, a Powerdot “oferece” tempo às pessoas, na medida em que enquanto deixam a carregar os seus carros podem ir almoçar, fazer umas compras ou treinar. E economizar tempo é precioso.
Em que alicerces assenta o vosso modelo de negócio?
A Powerdot assegura de forma 100% gratuita a instalação, a gestão e a manutenção de carregadores para veículos elétricos em parques de estacionamento de acesso público de centros comerciais, supermercados, retail parks, restaurantes, hotéis, ginásios, hospitais e municípios. Repartimos a receita com os proprietários destes espaços, os quais podem, através de uma plataforma online, ter acesso a toda a informação sobre os carregamentos efetuados no seu parque.
O tipo de carregador a instalar é sempre selecionado em função do tempo médio que as pessoas passam num determinado parque para ser o mais eficiente possível.
Perante isso qual é hoje o vosso principal objetivo?
Queremos tornar o carregamento do carro elétrico tão conveniente como o de um smartphone. E para isso acontecer, estamos onde os utilizadores já passam o seu tempo. Ter um carregador para veículos elétricos nestes locais, além de diferenciador, é cada vez mais uma expectativa.
De que forma se enquadra ele na vossa missão empresarial?
A Powerdot tem como missão acelerar a transição energética nas estradas nacionais e internacionais. Por isso, ao estarmos nos parques de estacionamento de acesso público, estamos a acelerar a mobilidade sustentável. Como? Ao aumentarmos a capilaridade da rede nestes locais do quotidiano do condutor, o carregamento deixa de ser, naturalmente, um entrave à utilização de um elétrico. O fenómeno do range anxiety deixa de fazer sentido, pois é possível carregar em qualquer parque.
Na sua opinião, o que distingue a Powerdot?
A Powerdot distingue-se essencialmente por três fatores. Com o modelo de negócio diferenciado conseguimos tornar a rede de carregamentos mais ampla e funcional. Por outro lado, a nossa dimensão internacional também é uma mais-valia, pois permite-nos ter uma perspetiva macro e, desta forma, aproveitar esta(s) experiência(s) para apresentar soluções mais eficientes para as diversas realidades. E, por fim, estamos focados no proprietário do parque de estacionamento, oferecendo um serviço de carregamento personalizado para os seus clientes que visitam o espaço.
Foram alvo de um forte investimento (150 milhões de euros) por parte da francesa Antin. O que levou a essa situação e o que esperam obter com esse investimento?
A Powerdot está numa fase de expansão e encontrou na Antin, o parceiro ideal. Trata-se de um fundo de investimento com experiência em infraestruturas e em tecnologia, mas, mais importante ainda, completamente ajustado à nossa missão e visão. Alinhadas as vontades com as necessidades de ambas as empresas, em junho de 2022 concretizou-se o negócio. De referir que esta ronda de investimento — a 2.ª maior do ano — representa 45% do capital total levantado por startups nacionais em 2022 em Portugal. Mais do que uma injeção de capital, para a Powerdot esta operação significou uma injeção de confiança, dando um sinal claro aos mercados e aos players de que somos uma empresa robusta, credível e com futuro.
Hoje quantos pontos de carregamento possuem em Portugal em operação?
A Powerdot fechou 2022 com 900 pontos de carregamento em Portugal em operação, estando presente em 157 municípios (incluindo Madeira e Açores).
Pretendem instalar mais? Se sim, quantos e em que prazo?
Em Portugal, em 2023, o objetivo é alcançarmos os 1500 pontos de carregamento para veículos elétricos. Na Europa pretendemos chegar ao final deste ano com 4000 e até 2025 com 19 000.
Estabeleceram recentemente uma parceria com a Accor na Europa. té que ponto esta é importante para a empresa?
É uma parceria de extrema importância para a Powerdot. Primeiro, porque a francesa Accor é um grupo de referência e, como tal, sentimos imenso orgulho em associar a nossa marca ao mesmo. Segundo, porque a hotelaria é um segmento em que temos muito interesse em investir. Porquê? Porque um hotel é um local que, por natureza, deve oferecer – desde a entrada até à saída – todo o conforto a quem se encontra de passagem. Por isso, faz todo o sentido que um cliente que possua um elétrico tenha oportunidade de carregar o seu veículo enquanto descansa. Mais uma vez, a Powerdot é um agente facilitador e quer estar onde as pessoas estão.
Quantos hotéis da marca francesa vão ser abrangidos?
Nesta fase-piloto – que já arrancou em Portugal, França e Espanha, – vamos instalar carregadores rápidos e ultrarrápidos em 114 parques de estacionamento dos hotéis Ibis, Mercure, Novotel, Pullman e Sofitel.
De que modo analisa a evolução do mercado dos veículos elétricos?
Não podemos analisar a evolução do mercado dos veículos elétricos sem analisar a evolução da rede de carregamentos, na medida em que há uma relação de interdependência: uma não existe sem a outra. Nos últimos três anos, estas duas realidades mudaram radicalmente. Aquilo que até então mais afastava as pessoas da compra de um elétrico, atualmente já não é um problema: as baterias possuem muita mais autonomia (há até 1000 km); dispomos de mais e de melhor rede de carregamentos (a 4.ª melhor da Europa); o preço dos veículos é cada vez menos proibitivo (rondava os 50 mil €) e está a democratizar-se (temos utilitários novos a menos de 20 mil €); já existem inúmeros modelos no mercado e várias marcas até já anunciaram o fim do fabrico de viaturas a combustão nos próximos anos.
Podemos então perceber que este mercado está em franco crescimento no nosso país?
Não só está em franco crescimento como é um processo irreversível. 2020 foi o ano de viragem a nível de vendas de veículos elétricos. A partir daí, quase todos os meses são batidos records. E esta mudança ocorreu devido a vários fatores. Com a pandemia e com o conflito na Ucrânia, as pessoas ganharam mais consciência ambiental e tiveram de procurar alternativas economicamente viáveis às constantes e vertiginosas subidas dos preços dos combustíveis fósseis. Além disso, também perceberam que um elétrico tem inúmeras vantagens, nomeadamente: quase não precisa de manutenção; como é silencioso reduz imenso a poluição sonora, proporciona uma excelente condução e ainda há incentivos do governo para a compra. Com a produção em massa de elétricos, os fabricantes também irão oferecer preços mais competitivos.
O que é a chamada “Lei 2035” e qual o seu real impacto no setor?
Em rigor, trata-se de um acordo (ainda não é lei, mas é quase certo que virá a ser em breve) assinado em junho de 2022 pelo Conselho da UE e pelo Parlamento Europeu. Basicamente proíbe, a partir de 2035, a venda de veículos novos movidos a combustão e, desde que foi anunciado, já se nota bastante o seu impacto no mercado: as pessoas pedem mais informações; as vendas de elétricos e os carregamentos continuam a atingir níveis históricos; o mercado automóvel está a reinventar-se de forma galopante e até a imprensa já pôs o tema na agenda mediática de forma permanente.
Que desafios vai ela trazer a uma empresa como a Powerdot?
Um estudo do ISEG de maio de 2022 já indicava que em 2025 os híbridos e os 100% elétricos vão representar mais de 50% das vendas de ligeiros de passageiros. Com a posterior introdução da “Lei 2035” (em junho de 2022), seguramente que estes números vão ser muito mais potenciados, pois, quando há uma medida destas aprovada, há uma imposição, uma obrigação, uma inevitabilidade.
As pessoas têm de cumprir; e cumprir, neste caso, significa comprar mais elétricos. E, se a procura aumenta, a Powerdot continuará a investir em parcerias, equipamentos, equipa, desenvolvimento tecnológico e expansão de mercados.
Está a empresa pronta para assegurar o crescimento aquando da procura a nível de número de postos?
A Powerdot tem total capacidade – a nível de recursos humanos e técnicos – para dar uma resposta rápida, eficaz e inovadora às necessidades crescentes, quer em Portugal, quer na Europa, quer noutros mercados. O nosso grande objetivo é que, quando as pessoas pensarem em carregamento elétrico, pensem em Powerdot.
No futuro quais os maiores desafios que se vão apresentar à empresa?
A expansão é sempre um enorme desafio, pois entrar em novos mercados é entrar em novas realidades, nomeadamente a nível legislativo e burocrático. Mas, um bom desafio é o que nos move a fazer mais e melhor, pois queremos ser a marca de referência do setor e deixar como legado um futuro sustentado e sustentável. Visto ser um mercado embrionário, existem ainda alguns entraves burocráticos à instalação e à operação dos carregadores.
Que estratégia tencionam implantar para os ultrapassar?
O primeiro passo é estarmos muito bem preparados em relação à realidade social, económica, legislativa e política do país em causa. E depois é apresentarmo-nos como um agente simplificador de processos. Nós não vamos pedir aos donos dos parques que invistam em nós. É precisamente o oposto: nós investimos nos parques e no negócio deles. Quando conseguimos provar aos decisores que a nossa proposta é simples e lucrativa para eles, as portas abrem-se naturalmente. De referir que estamos constantemente a trabalhar junto das entidades para desburocratizar o setor, com grupos de trabalho, casos de estudo e casos reais que deem a melhor resposta.
Na sua opinião o futuro da mobilidade automóvel em Portugal é, de facto, verde?
Sem dúvida alguma. Aliás, se há metas ambientais europeias para serem cumpridas e o setor dos transportes é um dos mais poluentes, o futuro da mobilidade não pode ser de outra forma. Vamos a factos: até 2030 temos de reduzir 55% da emissão dos gases de efeito de estufa, e até 2050 temos de atingir a neutralidade carbónica. Segundo o relatório da Agência Europeia do Ambiente, em 2019 (os anos de pandemia são atípicos para análise) os transportes foram, na União Europeia, responsáveis por cerca de ¼ das emissões de dióxido de carbono, sendo que 72% são provenientes dos transportes rodoviários. Se o CO2 é um dos principais causadores do efeito de estufa e do aquecimento global, então, o futuro da mobilidade vai ser necessariamente mais verde e, claro, mais elétrico.