Brands That Matter… J-unk
A marca de calçado J-unk dá nova vida às mangueiras de combate a incêndios danificadas. Criada em 2020, a marca incorpora os conceitos de Slow Fashion e tem como lema “Compre menos, mas melhor”. Para perceber melhor os seus objetivos e missão estivemos à conversa com Ricardo Conceição, brand manager da J-unk.
Como e quando surgiu esta ideia?
A ideia surgiu no final de 2019, depois do encerramento da marca onde Jacinto Oliveira (fundador) comprava grande parte do seu calçado e das alternativas encontradas não o satisfazerem por completo. Vendo aí uma oportunidade de negócio, ele procurou criar uma marca com uma identidade forte e uma ligação emocional que lhe fizesse sentido. O facto de Jacinto ser bombeiro voluntário desde os 14 anos levou-nos a pensar em alguns dos materiais que os bombeiros costumam deitar ao lixo e surgiu a ideia de reaproveitar as mangueiras danificadas em incêndios.
Alguém da equipa estava ligado ao universo do calçado?
A equipa da Shoelutions tem mais de uma década de experiência no desenvolvimento de calçado. Este fator, aliado à relação pessoal já existente com o fundador da marca, foram decisivos para fazer avançar o projeto com mais confiança.
Nascem em pandemia…não tiveram receio de avançar?
A pandemia nunca colocou em causa o projeto porque foi sempre pensado a longo prazo. A ideia é ir crescendo devagar, organicamente e de uma forma sustentada. O que a pandemia pode ter provocado é alguns atrasos nas etapas planeadas, mas a concretização nunca foi posta em causa.
O que querem transmitir com o nome?
O nome é um trocadilho com Punk. O “J” também está associado ao nome do fundador da marca Jacinto. Significa ainda a preocupação da marca com a sustentabilidade e o reaproveitamento do que era suposto ser lixo (junk), neste caso as mangueiras de incêndios danificadas.
Exatamente o que é o calçado J-UNK?
Em termos de estilo, o nosso calçado conjuga a união entre o “punk” e o “hipster”. A ideia foi juntar um lado mais cuidadoso, estético e perfeito que caracteriza o “hipster” com um lado mais irreverente, ligado à música e cheio de “sex appeal” que caracteriza o “punk”. O espírito criativo londrino está muito presente, e isso traz produtos contemporâneos com um design arrojado. Mas a originalidade dos modelos e o toque pessoal está na utilização de material reaproveitado de mangueiras de incêndios danificadas. Num conceito mais lato, o calçado J-UNK traduz-se numa conjugação de valores, aquilo que nós chamamos o triângulo das virtudes, onde valores ambientais, sociais e éticos se materializam num mesmo produto contribuindo para um consumo mais sustentável.
Há mais como vocês no mundo ou não?
Já pesquisamos bastante e não encontrámos nenhuma outra marca em todo o mundo que desenvolva calçado com material reaproveitado de mangueiras de incêndios danificadas, por isso acreditamos que podemos dizer que fomos a primeira fazê-lo e, por enquanto a única.
Quais os valores em que assenta a marca?
Há cinco valores chave que destacamos no nosso projeto:
Reciclagem das mangueiras danificadas em incêndios – para além do seu lado ecológico têm uma componente social através das doações às corporações de bombeiros;
Uso de peles de curtimenta vegetal e Biocouro – escolha de materiais com métodos mais ecológico e garantia de que as peles utilizadas são um subproduto da indústria alimentar;
Princípios do slow fashion – destaca-se imediatamente no nosso slogan “Buy less, but better”, ou seja, procuramos oferecer um produto de elevada qualidade e durabilidade por forma a que o cliente compre menos vezes contribuindo para o uso de menos recursos ambientais.
Modelos sem género – queremos que todos os modelos e cores possam ser usados por todos, procuramos acabar com estereótipos e abrir mentalidades, acreditamos que também na moda podemos contribuir para que todos possam expressar a sua identidade livremente.
Fabricação ética em Portugal – escolhemos fornecedores e parceiros locais com valores de integridade, transparência e fabrico responsável.
Há uma faceta solidária neste calçado. Podem explicar em que
consiste?
Em cada par que vendemos contribuímos através de uma doação para ajudar associações humanitárias de bombeiros voluntários. Por outro lado, em cada metro de mangueira danificada que nos fornecem também fazemos um donativo. Podemos dizer que, em média, cada par vendido reverte em cerca de 20€ para ajudar associações humanitárias de bombeiros voluntários.
O que significa para vocês a Slow Fashion?
Um dos pontos-chave é exatamente o nosso slogan “Buy Less, but better”, comprar menos mas melhor adquirindo produtos mais duradouros faz com que haja uma gestão mais sustentável dos recursos. Não limitamos no entanto este conceito a comprar menos, defendemos ainda o respeito pelos trabalhadores e pelos direitos humanos e por isso escolhemos fornecedores e parceiros com valores éticos semelhantes aos nossos, bem como o respeito pelo meio ambiente que nos levou a escolhas de materiais com fabricos mais responsáveis, sustentáveis e ecológicos.
“Compre menos, mas melhor” é o vosso lema. Que estratégia de divulgação estão a implementar com vista a levá-lo a mais pessoas?
O budget da marca para divulgação é limitado por isso estamos muito focados em promover uma relação com o público que transforme cada cliente num embaixador da marca e dos seus valores. Apesar de ser um processo lento, os testemunhos são uma forma mais verdadeira e com menos custos para cativar clientes. Não obstante, temos também programadas outras atividades de comunicação a divulgação, nomeadamente através das redes sociais, parcerias com alguns influencers, da campanha de crowdfunding e do site da marca que será lançado em Fevereiro.
Qual a durabilidade deste produto?
Como qualquer produto, a sua durabilidade depende da utilização e conservação que cada cliente lhe dá. No entanto, podemos afirmar que cada sapato é fabricado com materiais de elevada qualidade que lhe conferem uma alta durabilidade e um envelhecimento natural, lento e gradual. Para aumentar ainda essa durabilidade natural também estamos disponíveis para fazer reparações nos sapatos dos clientes que desejem prolongar a vida útil dos seus sapatos.
Se vos perguntasse qual o vosso cliente tipo o que responderiam?
É um cliente que tem consciência de mercado, estilo e design. Procura o conforto mas também um toque de ousadia e tem muita atenção aos detalhes. Com uma mentalidade aberta, gosta da vida social, assistir a eventos culturais, música… e de se sentir especial. Em termos de idade, o target estará maioritariamente entre os 30 e 50 anos.
Em que parte do calçado são incorporadas as mangueiras?
Todos os modelos possuem um puxador estético e funcional feito de mangueira. No caso das solas dos modelos mais desportivos trituramos a mangueira e incorporamos na borracha por forma a que cada sola contenha 15% de mangueira triturada.
E que outros materiais integram no calçado?
No exterior utilizámos peles de curtimenta vegetal, uma pele cujo processo de curtimenta é mais sustentável e ecológico e que alia vantagens ao nível de saúde e conforto dos pés. O forro é feito com Biocouro, um material que é 100% biodegradável em apenas 15 dias. Os nossos atacadores são feitos de algodão e as palmilhas são fornecidas com dois plantares anatómicos para que se ajustem a todos os pés.
Onde são fabricados?
São fabricados totalmente em Portugal.
Só em Portugal?
Sim apenas em Portugal e os nossos principais fornecedores estão localizados num raio de 10 kms.
Lançaram uma campanha de crowdfunding, porque o fizeram e qual objetivo?
Apesar do projeto não estar dependente disso, o crowdfunding permite-nos angariar financiamento através das pré-encomendas e os clientes ganham ao usufruir de um desconto ou ofertas por serem os primeiros a adquirir os produtos. Por outro lado, ajuda-nos a dar a conhecer a marca, ganhar alguma visibilidade e notoriedade.