Back to Back Festival uma noite onde a música falou mais alto
Depois de, praticamente, dois anos de pandemia em que os festivais se viram forçados a parar foi com uma enorme alegria que no dia 20 de novembro nos dirigimos ao novo LAV – Lisboa ao Vivo para participar na primeira edição do Back to Back Festival.
Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro
O evento, que no dia seguinte rumou ao Porto, foi uma iniciativa da Prime Artists e contou com um cartaz de luxo composto por quatro bandas nacionais que inundaram a sala lisboeta de rock e metal, numa prova de que a música feita em Portugal está viva e recomenda-se.
A noite começou com os The Quartet of Woah! e não podia ter começado de melhor forma. A banda formada em 2010 entrou em palco para dar tudo. Os seus quatro elementos interagem de tal forma intensa que o resultados são canções intensas que tocadas ao vivo adquirem um aura e brilho ainda maiores. A teia musical que foram tecendo ao longo da sua atuação não deixou ninguém indiferente. Percebe-se a cumplicidade existente entre os músicos que tão depressa nos transportam para a beira de um mar agitado por ondas intensas, como nos agarram as mãos para connosco percorrer uma alameda verdejante ladeada de imponentes árvores rumo a um prado tranquilo e aconchegante. É desta dicotomia que se faz o som dos The Quartet of Woah! plasmado já em dois discos editados: puro rock’n’roll onde se casam pesados riffs e cativantes harmonias, numa relação cuja sensibilidade salta à vista e aos ouvidos.
Quando os Process of Guilt subiram ao palco do LAV já todos tínhamos percebido que esta seria efetivamente uma noite especial. Nada distrai o público quando a banda oriunda de Évora começa a tocar. O ambiente pinta-se de escuridão para que apenas a música sobreviva e se transforme no ponto de contacto de todos os que por esta altura se encontravam na plateia. Dezasseis anos depois, os Process of Guilt contam uma história que marca o underground nacional apresentando-se hoje como um dos seus nomes mais fortes. Tensas e viscerais assim são as músicas compostas por Hugo Santos, que além de compositor, acumula as funções de guitarrista e vocalista dos Process Of Guilt. Com um percurso feito de um progressivo crescimento técnico, estético e sónico, os Process of Guilt mantêm-se poderosos, massivos, pesados e arrasadores, e é assim que gostamos deles.
Poucas coisas são para nós mais catárticas do que um concerto dos Bizarra Locomotiva. Verdadeira máquina bem oleada, a banda não falha nunca e dá ao seu público fiel aquilo que ele mais gosta: poderosas descargas de adrenalina! Assim foi no Back to Back, com um Rui Sidónio imparável (como sempre), um Miguel Fonseca imponente (nem podia ser de outra forma), um Alpha intrigante e majestoso (com uma espantosa máscara facial) e um Rui Berton bem oleado na bateria. Nada falha nesta Máquina de boa música. Trazendo ao LAV um alinhamento negro, denso e pesado, os Bizarra mostraram mais uma vez o forte carisma que possuem. Cantados em uníssono, os refrões inundam a sala demonstrando uma entrega do público à banda. Sentindo essa entrega, Sidónio desce do palco e mistura-se com a plateia. sim, a entrega é reciproca. Há no ar a promessa de um novo disco, venha ele que os seguidos da Locomotiva cá estão para o receber de braços abertos.
A fechar esta noite incrível os Mão Morta. Uma das grandes referências para muitos músicos e bandas nacionais (atente-se na t-shirt que Rui Sidónio vestia), a banda de Braga chegou para encerrar com chave de outro aquela que, esperamos, seja a primeira edição do Back to Back Festival. Considerada e com razão, como a maior banda de culto nacional, os Mão Morta sobrevivem a tendências cativando com o seu som várias gerações de público. Que o digamos nós que já passámos a paixão ao mais novo elemento da família LSD… Liderados por Adolfo Luxúria Canibal, os Mão Morta trouxeram a sua enorme energia ao palco do LAV. Donos de um percurso ímpar, do qual fazem parte verdadeiras obras-primas da música nacional, souberam, mais um vez, dar ao público um alinhamento onde a lírica da palavra escrita e dita por Adolfo entra pelos poros da pele de cada um de nós, deixando marcas persistentes, que, tal como tatuagens, jamais sairão.
The Quartet of Woah!
Process of Guilt
Bizarra Locomotiva
Mão Morta