À Conversa com os Dear Telephone
Chegam de Barcelos para agitar, com classe, a cena musical nacional. Dão pelo nome de Dear Telephone e falaram com a Look Mag sobre o seu «Taxi Ballad».
Há espaço em Barcelos para tanta e boa música que de lá vem ou a música nasce lá para sobreviver no mundo?
Há espaço para a criação, há uma cultura enraizada de abordar a música com critério e exigência. E funciona bem como plataforma de interação entre os músicos.
Em 2011 surgiam com o EP «Birth of a Robot». O que andaram a fazer até então?
Cada um de nós tinha – e mantém – projetos de que somos nativos. O André e o Ricardo vêm dos La la la ressonance e o Pedro vem dos peixe:avião.
Dear Telephone foi uma banda que nasceu muito depressa, quase como um impulso.
Dear Telephone porquê?
O nome da banda foi inspirado numa curta-metragem «Dear Phone». É um filme que retrata, num registo muito abstrato, temas fundamentais para nós. A incomunicação, a palavra, o anticlímax. Pela lente dum autor que adoramos, o Peter Greenaway. O nome do filme fez eco numa série de conceitos que queríamos abordar. O “querido telefone” do yuppie hiperactivo, da adolescente apaixonada, do velho solitário. O telefone que representa, em simultâneo, o estar ligado e o estar sozinho.
Voltemos ao EP, o que procuraram afirmar com as músicas que o integravam?
Uma certa ideia de aridez e simplicidade formal, na música, casada com um lirismo intenso e colorido, das palavras.
Achas que conseguiram fazer passar a mensagem dai o nascimento este ano de um álbum?
São questões separadas. O EP é feito num contexto particular e teve um lugar importantíssimo no nosso processo de crescimento. O álbum é feito com outras premissas e expectativas.
Como foi o processo criativo que deu origem a «Taxi Ballad»?
Resultou de mais de um ano bastante intenso de concertos. Resolvemos parar, reorganizar o repertório e pensa-lo para estúdio, mantendo a vocação live. Foi um álbum muito feito em sala de ensaio, a tirar o máximo das canções com o mínimo de recursos. Acabou por ser gravado em dois dias e quase sem overdubs.
Disco influenciado pelo cinema, como vocês já afirmaram, como descreverias «Taxi Ballad»?
É um disco de interiores. Em todos os sentidos. Também é agreste, exploratório, e por outro lado, simples, pouco ornamentado. É uma balada muito mais no sentido cinematográfico do que musical. Os ambientes entrelaçam-se, a toada é fluida e relaxada. O taxi evoca a ideia/cliché de um espaço interior onde viajamos, entregues a nós mesmos, pela confusão inspiradora do ambiente urbano.
As vozes surgem como num diálogo. Podemos falar em duas personagens que se vão cruzando nas canções?
Cruzando, divergindo, interagindo. São personagens invariavelmente em discurso direto. Às vezes as duas vozes são a mesma personagem, outras vezes uma só voz pode representar várias personagens.
Qual o motivo que levou à escolha de «That Violin Lesson Sucks» para single de apresentação do disco?
É talvez o tema que melhor faz a ponte com o trabalho anterior. Ainda que seja, curiosamente, um dos que compusemos mais recentemente. Seja como for não foi uma escolha fácil. É um disco que vive bastante da interpenetração entre as canções e as histórias que contam. Não é um disco de singles.
Nota-se um cuidado grande ao nível dos arranjos, talvez mais austeros. Era este um aspeto importante para a sonoridade que pretendiam dar ao disco?
Fundamental. Arranjos efetivos e mínimos. Numa toada onde houvesse o necessário equilíbrio entre o descontrole ou a expressividade e a contenção, a regra.
Ao ouvir o vosso trabalho vêm-nos à memoria alguns toques de post-rock mixado com uma pop suave na apresentação mas com forte personalidade, em especial na faixa nove «Passengers». Quais as vossas maiores influências?
Temos, na verdade, preferências e influências muito diversas. Arthur Russell, Gillian Welch, Low, Dean Blunt, são algumas das comuns e que partilhamos recentemente.
Se vos dessem a oportunidade de fazer uma banda sonora qual o realizador que escolhiam?
Hoje, aqui e agora, escolhíamos o Todd Haynes.
Integram o cartaz do Optimus Primavera Sound. Que espectativas têm relativamente ao vosso concerto?
É um concerto com particularidades que nos entusiasmam. A expectativa vem fundamentalmente do facto de nos expor a um universo de público mais alargado. E será curioso ver como funcionam os temas do disco – que é bastante interior – num espaço aberto e contexto de festival.
Qual o concerto que não vão perder?
Swans, Dinossaur JR, Daniel Johnston, Bad Seeds, Four Tet.
Para onde e quando os próximos concertos?
Um pouco por todo o país e não só. Para breve, Coimbra, Barcelos, Porto e Algarve.
http://www.facebook.com/deartelephone
Texto por Sandra Pinto