Spiralist: “Disintegration é sobre estar vulnerável e sobreviver”

O projeto Spiralist regressa com Violent Feathers, um álbum profundamente pessoal que mistura metal, industrial, eletrónica e rock, com influências dos anos 90 e referências artísticas que vão do cinema à literatura. No centro desta obra está o single “Disintegration”, escrito em apenas meia-hora após um momento de breakdown, e que encerra o álbum com uma mensagem de vulnerabilidade, resiliência e esperança.

Por Sandra Pinto

Entre experiências traumáticas, processos de psicoterapia e uma exploração intensa da própria identidade, Spiralist transforma dor e introspeção em música. Cada faixa funciona como peça de um puzzle emocional, convidando o público a uma viagem sonora e terapêutica que desafia categorizações simples. Nesta entrevista, discutimos como a honestidade emocional, a colaboração artística e a componente visual se unem para criar uma experiência completa e como Violent Feathers é mais do que um álbum, mas uma extensão de autoexploração e conexão humana.

Disintegration” foi escrito em apenas meia-hora, após um momento de breakdown. Como é que esse instante de vulnerabilidade se transformou na música que ouvimos hoje?
Decidir fazer terapia abriu canais de autoexpressão e criatividade dentro de mim de forma imediata, e acredito que esse foi o fator preponderante para a “Disintegration” ter sido escrita de forma tão imediata. Senti-me mais como o recetor da canção do que propriamente como o criador dela. Estava finalmente a confrontar problemas de comunicação, assertividade e autoestima que me deixavam vulnerável em situações de abuso, e esta canção tornou-se a génese do “Violent Feathers”.

O single encerra o álbum Violent Feathers com uma mensagem de apoio e esperança. Quão importante é para vocês passar essa sensação de que ninguém está sozinho?
É muito importante. Não há muitas ferramentas tão boas como a música no que toca a unir as pessoas, e gostamos de contribuir e fazer parte desse processo.

Violent Feathers foi concebido como uma espécie de terapia musical. Como foi experienciar esse processo de autoexploração através das canções?
O álbum foi escrito em simultâneo com (e como complemento a) um processo de psicoterapia, e escrever as canções permite-me resolver as minhas experiências e selá-las num formato com uma carga energética muito mais positiva. Algumas partes do processo foram mais dolorosas, como escrever sobre assédio sexual na “Hell Froze Over”… mas perder a vergonha de falar sobre assuntos sensíveis e que não deviam ser um tabu foi muito importante.

O álbum contém experiências pessoais e traumáticas bastante intensas. Como equilibram a brutal honestidade emocional com a criação artística?
Funcionam em simultâneo, na verdade. Os temas e as histórias que queremos contar influenciam a música que escrevemos, e não o oposto, por norma, por isso essa honestidade emocional é o ponto de partida, e não fazemos nada sem intenção. Temos de estar confortáveis com a ideia de vir um pouco a nu publicamente com as coisas que escrevemos nas nossas canções. Não sei se é sequer possível ser artista sem aceitar essa condição logo à partida.

Instrumentalmente, Spiralist mistura metal, industrial, eletrónica e rock, com nuances dos anos 90. Como decidiram esta paleta sonora para o álbum?
Crescemos todos durante os anos 90, por isso essa década é responsável por algumas das experiências mais marcantes das nossas vidas. E parte do processo psicoterapêutico implica recordar a infância. Mas diria que os anos 90 foram tão influentes no “Violent Feathers” como o David Lynch, o Francis Bacon, Terror Analógico, literatura transgressiva, e o “Leda and the Swan” do WB Yeats – entre outros.

Cada música funciona como uma peça de um puzzle. Como é que “Disintegration” se integra no todo do álbum, tanto em termos sonoros como emocionais?
A “Disintegration” é uma canção particularmente vulnerável onde existe em simultâneo uma confissão sobre o estado atual das coisas e o desenterrar de axiomas aprendidos desde cedo que culminaram no breakdown que deu origem à canção. É uma peça-chave para compreender o álbum como um todo, mas a grande parte do trabalho cabe aos ouvintes.

Vários músicos e produtores colaboraram neste single e no álbum. De que forma essas parcerias influenciaram a direção final de “Disintegration”?
Spiralist começou como um projeto a solo – e em certa medida ainda o é – mas ao longo do tempo tem-se tornado cada vez mais colaborativo, e o “Violent Feathers” é o maior exemplo disso. Ninguém é uma ilha. O Daniel Valente, o Ricardo Borges e o Tony Lindgren tiveram papéis muito específicos mas fulcrais no som do álbum, e os convidados (Graça Carvalho, Sofia Magalhães, João Pedro Amorim, Daniel Sampaio, Benjamim Gomes e José Soares) trouxeram um cunho pessoal às canções que as elevaram para um patamar inacessível para mim se trabalhasse de uma forma completamente isolada.

O videoclipe acompanha o lançamento do single. Qual é a importância da componente visual para transmitir a intensidade emocional do álbum?
Olhamos para os videoclipes como uma forma de arte complementar à música e que permite expandir o universo do álbum. As nossas canções estão a tentar fazer o público sentir algo concreto, e a componente visual reforça a mensagem e a experiência.

Para alguém que ainda não conhece Violent Feathers, como resumiriam a viagem emocional e sonora que o álbum proporciona?
O “Violent Feathers” é um álbum terapêutico sobre experiências de abuso e as repercussões dessas experiências, através de uma narrativa fragmentada que recompensa múltiplas audições e incentiva mergulhar a fundo para resolver o mistério do que realmente está a acontecer na história. Não é fácil classificar o álbum musicalmente, mas contem com Rock pesado e passagens cinemáticas com influência de música Industrial, electrónica, e noise.

Após lançar “Disintegration” e fechar este capítulo, que novos caminhos ou experiências musicais esperam explorar com Spiralist no futuro?
Acabamos de lançar um álbum que implicou um período gestacional de 3 anos, por isso estamos a dar licença a nós mesmos para respirar um pouco antes de nos atirarmos de cabeça para outro trabalho. Antes disso, queremos levar o “Violent Feathers” a mais palcos e a mais pessoas. Essa é a nossa prioridade neste momento. Queremos fazer mais música? Sem dúvida. Temos uma visão na cabeça do que queremos fazer? É possível. Mas não tomemos o futuro como garantido. Citando as últimas palavras de Fernando Pessoa: Não sei o que o amanhã trará. Desfrutem do “Violent Feathers” e importunem os vossos bookers, agentes e promotores favoritos se nos quiserem ver ao vivo. Cá estaremos.

Disponível na Raging Planet

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