
Nada nos dá mais prazer do que percorrer Portugal em busca do melhor que ele tem para nos dar. E tem sido tanto. Mas a verdade é que neste cantinho à beira mar plantado há sempre mais qualquer coisa para descobrir, seja um lugar, um sítio, um espaço, um hotel ou mesmo uma aldeia.
Foi uma destas pequenas maravilhas que fomos descobrir em Trebilhadouro, no concelho de Vale de Cambra, perdida nas encostas da Serra da Freita.
O seu nome não podia ser mais apropriado, pois Traços d’Outrora consegue trazer até ao presente a magia da tradição. Turismo rural de elevada qualidade, tem nos proprietários, Isabel Fonseca e Horácio Pereira, os verdadeiros defensores do melhor que a região tem para oferecer aos visitantes. Responsáveis pela requalificação deste espaço, que esteve desabitado desde há 15 anos, ambos sentem por ele um enorme amor, o qual se percebe quando com eles conversamos. Com os incêndios que durante o verão assolaram a região, viram os seu projecto ameaçado, mas, sem nunca baixar os braços, encararam o sucedido com tremenda coragem e seguem em frente, pois Traços d’Outrora isso mesmo merecem.
Chegar à aldeia do Trebilhadouro é realizar uma viagem ao passado. Ali ainda podemos viver o espírito mais característico das aldeias beirãs que perdidas no meio da serra mantêm a pureza dos primeiros tempos. Localizada a cerca de 625 metros de altitude, a partir dela os olhos conseguem alcançar o mar e a ria de Aveiro, bem como Vale de Cambra e a Serra da Freita.
As casas de pedra destacam-se por entre a paisagem, apresentando-se como refúgios de paz e tranquilidade. Foi assim que se nos apresentou a Casa Rosalina, nossa morada durante a estada em Traços d’Outrora.
Comodamente instalada num dos pontos mais elevados da aldeia, apresenta todas as características típicas de uma casa da região, desde logo a pedra e as paredes grossas. Das janelas rasgadas sobre a serra, a paisagem apresenta-se perante os nosso olhos como única e verdadeiramente inesquecível. É verdade, tivemos a sorte de o céu estar limpo e sim, vimos a ria de Aveiro lá ao longe a pintar de azul o horizonte.
Caracterizada como um T4, a casa acolhe a cozinha no piso térreo. Foi com surpresa que ao nela entrar percebemos que estava decorada com um penedo! Sim, isso mesmo, uma dessas pedras enormes e redondas que se encontram um pouco por toda a serra. Pois, ali está ele instalado por detrás da bancada a dar o ar de sua graça, lembrando que era assim mesmo que os antigos viviam, invulgarmente tendo por companhias estes impressionantes penedos.
Neste mesmo piso encontram-se a sala de estar e de jantar, três acolhedores quartos e duas casas de banho.
Subindo as escadas foi com espanto redobrado que percebemos ter chegado a um espaço verdadeiramente cativante, pois perante nós uma ampla sala detentora de uma enorme janela rasgada sobre a mais bela das paisagens. No interior, a lareira fez-nos desejar que fosse inverno e a guitarra que ali fomos encontrar serviu de pretexto a uma noite musical.
É neste piso superior que se encontra mais um dos quartos da casa, cujo ambiente tranquilo nos ofereceu a mais grata noite de sono. No exterior, uma piscina apela a instantes de relaxamento, com vista para a serra.
Como as casas que salpicam de pedra a serra, Traços d’Outrora deixa na nossa memória bons momentos de partilha. A paz que ali se sente ajuda a repor as energias que o dia-a-dia se encarrega de desgastar. É com um obrigada que nos despedimos, prometendo voltar.
Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro
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