The Mission celebram 30 anos em Lisboa
Foi em 2011 que nos cruzámos com eles a última vez. Nessa altura, o pretexto foi a celebração de 25 anos de vida dos The Mission. Uma mão cheia de anos depois voltámos ao seu encontro, desta feita para cantar os parabéns a três décadas de existência.
Ao fazermos as contas ao anos percebemos que os The Mission fazem parte da nossa vida desde a nossa mais tenra adolescência. Na verdade, a nossa história com a banda britânica de rock gótico remonta ao final dos anos 80, época em que a música era já parte integrante da nossa existência enquanto aspirantes a pessoas completas.
A descoberta chegou através de um amigo que na altura pertenceria ao grupo dos góticos. Nada que chocasse uma vanguardista ferranha, que habituada a toadas de si já bastante negras, encontrou na banda de Wayne Hussey o porto seguro para uma série de sentimentos. Cassete gravada, foi ela que, no velhinho walkman da Sony, serviu de companhia a umas memoráveis férias de verão passadas na Meia Praia de Lagos.
Nostalgias à parte, foi com alguma emoção que nos deslocámos, desta feita ao Paradise Garage, para com os The Mission celebrar a vida deles e, no fundo, a nossa também.
Casa cheia como convém em festa de aniversário, a banda encontrou o espaço certo para fazer desfilar todos os seus grandes sucessos, pontuados aqui e ali por músicas do novo registo ” Another Fall From Grace ” lançado a 30 de setembro último. Isso mesmo fez questão de lembrar Wayne ao afirmar que «temos um disco novo, sabiam? É muito bom». Nascidos em 1986, os The Mission brotam das divergências entre Wayne Hussey e Craig Adams da sua anterior banda, os não menos famosos The Sisters Of Mercy, à época já liderados por Andrew Eldritch. Ao longo da sua extensa carreira conseguiram trazer a si uma verdadeira legião de fiéis fãs que a cada nova aparição se junta para lhes prestar vassalagem, a qual, na nossa modesta opinião, bem merecem.
“Beyond The Pale”, “Serpent’s Kiss” e “Like a Hurricane”, cover de Neil Young, serviram de entrada a um alinhamento do qual faziam, obviamente, parte mais alguns incontornáveis temas da sua discografia.
Por esta altura, já o público tinha viajado no tempo, o que se percebia ao observamos o semblante dos mais, digamos, vintage, que emocionados não tiraram os olhos de cima do palco. Pois, é assim que os verdadeiros fãs fazem, olham admirados para os seus ídolos, olhos nos olhos e não através de uma câmara de um qualquer telemóvel.
A “Met-Amor-Phosis”, single de apresentação do seu mais recente registo discográfico, seguiram-se “Tyranny Of Secrets” e “Like a Child Again”. É esta a altura certa para lhes dizermos que as palmas foram uma constante enquanto manifestação de evidente satisfação do público, provocando, em jeito de feedback, sorrisos sinceros nos elementos da banda, com destaque para o vocalista que se mostrou feliz e bem disposto durante toda a atuação.
Duas horas de concerto com um alinhamento de mais de 20 temas não é para todos. The Mission conseguiram levar a tarefa a bom porto, tendo ainda pelo meio conseguido captar uma atenção extra por parte da audiência quando fizeram subir a palco duas bailarinas durante “Tower Of Strenght”, quando uma chuva de confettis brotou do teto e quando Wayne canta “Can’t Help Falling In Love”, tema da década de 1950, imortalizado por Elvis Presley.
Por altura do encore, a noite estava mais do que ganha. mas ainda havia mais emoções por desbravar. Incapaz de arredar pé, o público ia percebendo que o melhor da festa estava guardado para o fim e foi isso mesmo que aconteceu quando todos percebemos que do alinhamento final faziam parte aquelas canções que todos sabemos cantar num tremendo processo de comunhão musical. “Stay With Me”, do primeiro registo discográfico God’s Own Medicine, de 1986, é ali apresentado em formato acústico, seguindo-se a primeira incursão pelo quarto registo discográfico da banda, Carved in Sand, datado de 1990, com “Butterfly On A Wheel”, o regresso ao álbum de 1986 com “Severina”, verdadeiro hino cantado a plenos pulmões pelo público, e o fecho da noite fez-se com chave de ouro com “Deliverance” do registo de 1990. Que grandes 30 anos e que bela celebração!
Na primeira parte atuaram The Awakening. Banda nascida em 1995 na cidade sul-africana de Joanesburgo, conta com a prestação do vocalista Ashton Nyte, uma combinação de 50 por cento do charme de Michael Hutchence, o malogrado vocalista dos INXS, falecido em 1997, e outros 50 por cento da pose de Enrique Bunbury, o vocalista da banda espanhola de culto, Héroes del Silencio.
Além da sua qualidade musical, impossível não destacar a beleza da baixista canadiana Chela Rhea Harper, e a surpreendente interpretação que fizeram da música de 1964, “The Sound of Silence” da dupla Paul Simon e Art Garfunkel.
Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro