À conversa com Signs of the Silhouette
Movimentam-se entre a música e as imagens, divagam entre o sentir e o imaginar. Dão pelo nome de Signs of the Silhouette e surpreendem pela criatividade e inovação num processo onde aliam o poder da imagem à magia do som.
Quem são e como nasceram os Signs of the Silhouette?
Signs of the Silhouette é um projecto constituído por três pessoas (Miguel Cravo, vídeo, Jorge Nuno, guitarra eléctrica e João Paulo Entrezede, bateria), criado em finais de 2011. Tudo isto nasce das conversas entre nós sobre a relação entre imagem e música – o que pode gerar o quê? Podemos ver o som? Podemos ouvir a imagem? Assim surgiu este trabalho performativo que relaciona a sonoridade com projecções vídeo originais.
Contem-nos um pouco do percurso musical de cada um…
Eu (Jorge Nuno) toquei em alguns projectos de originais como os Riddle, Stereo Alligator e Lisamona, projecto esse onde conheci o João Paulo, que além de tocar em projectos de covers, tinha o seu projecto original chamado Billy the Kid.
Optaram por dois instrumentos, guitarra eléctrica e bateria. Porquê?
A opção foi dirigida pela vontade de criarmos algo à volta das nossas ideias e não tanto pelos instrumentos em si, apesar dos mesmos constituírem a nossa melhor forma de expressar o que fazemos. Podemos dizer que as sonoridades destes dois instrumentos dão forma a um jogo que vos cativa? Sim. Sentimos a música como um diálogo entre nós e reagimos às imagens projectadas. Mas, não é um jogo somente cativante, é também exploratório. A abordagem do som é um estudo e um “sentir” exaustivo, constante do elemento vídeo. A imagem é uma pauta livre.
Como surgiu a vossa colaboração com Miguel Cravo, responsável pelas obras-vídeo?
Na altura quando nos conhecemos, o Miguel Cravo tinha terminado o seu percurso no Ar.co e na Maumaus e queria desenvolver muitas das suas ideias no âmbito do vídeo experimental. Surgiram conversas sobre a relação entre o som e a imagem e como eles se podiam articular pela percepção. Através de várias experiências e ensaios os Signs of the Silhouette “aconteceram”.
Podemos então entender os Signs of the Silhouette como um trio…
Claro que sim. Nós entendemos o som e a imagem em conjunto, apesar de serem expressas por formas diferentes. Participamos todos na sua elaboração, quer em filmagens quer nas explorações sonoras. Tudo isto apesar de estarmos abertos a colaborações exteriores como aconteceu no nosso último trabalho “Land Garden”.
Até que ponto as projecções de vídeo completam a música, ou será o inverso?
Os dois elementos completam-se e interagem. Ouvindo-vos quase podemos afirmar que nasceram para tocar ao vivo, vocês sentem isso? Sim, a performance em palco é o culminar das nossas ideias.
O estar em cima do palco é a razão de existirem ou um complemento essencial a essa existência?
É, sem dúvida, um complemento mas culminativo. Para trás está todo um processo de elaboração e criação que, sim é a nossa razão de existir. A reacção por parte do público é importante para vocês? Queremos criar reações e fazer as pessoas pensar, mas tudo isto é uma forma de expressão nossa e fazemo-lo independentemente disso. A triologia Monochrome é constituída por três partes.
Expliquem-nos o sentido de cada uma delas e de que forma se complementam.
A triologia Monochrone é constituída por três álbuns:
– Signs of the Silhouette, foi o nosso primeiro contacto com o campo sonoro e exploratório visual. É um álbum assombrado pelo testemunho da percepção;
– Rocket Fish, um álbum onde reflectimos sobre a essência do momento criativo tendo como base as ideias de vários mitos cosmogónicos. Criação e transformação são as palavras:
– Land Garden, este último trabalho tem em conta a ideia de dúvida e questionamento. Reflexão sobre a construção do que foi feito e transformado. É, nesse sentido, o culminar. Assim nostalgia imperfeita, perda e verosimilhança. Todos estes trabalhos sonoros são expressos por obras-vídeo.
“Land Garden”, a terceira parte da trilogia contou com a participação da Helena Espvall no cello e do Hernani Faustino no contrabaixo.
O que vos levou a ter mais dois instrumentos e como surgiram estas colaborações?
Convidámos o Hernani e a Helena porque nos sentimos muito próximos do som deles e temos bastante admiração pelo seu trabalho e percurso. Além disso, este encontro representa para nós, de alguma forma, um testemunho exterior ao trio e por isso um outro olhar sobre o que fazemos. É uma grande honra.
Lançaram a trilogia apenas em vinil? Porquê o vinil?
Acreditamos no “contacto” do analógico. No vinil uma agulha “toca” numa superfície rogosa (o disco) e nesse sentido é mais “real” e “natural” que o CD. Não existe compressão do som. Ele é o que é. O conceito da obra é nesse sentido melhor representada. São da opinião que o som é mais, digamos, puro, perto daquilo que imaginaram? Não só mais puro do que imaginamos, mas também do que sentimos. Na verdade, ao ouvir cada um dos vossos vinis não conseguimos parar, estão muito bem feitos… Muito obrigado, deram-nos imenso prazer a “sentir”.
Se vos perguntasse que mensagem pretendem transmitir com o projecto o que diriam?
Sinestesia. A ideia de como tudo nos marca e constrói, e como somos exactamente isso. Não é comum ver um projecto como o Signs of the Silhouette em Portugal. Quais são as vossas maiores influências? Filosofia (fenomenologia), por isso tudo o que nos toca e rodeia. Ficamos, por vezes, absorvidos pelo som de um motor de um carro ou de uma árvore a cair e discutimos como poderíamos reproduzi-lo noutra imagem e noutro som… Podíamos falar de referências musicais, mas com todo o respeito, seria redundante.
Estiveram recentemente no Brasil a promover o projecto. Como correu?
Foi muito bem aceite, tendo sido para nós uma enorme experiência e oportunidade. Que diferenças assinalam entre o público brasileiro e o português? Gostámos muito do público brasileiro, pois pareceu-nos super curioso e aberto a novos conceitos e projectos. Em Portugal existe bom público e interessado, mas poucos espaços para a divulgação deste tipo de performance. Onde podemos encontrar os vossos discos à venda e quando vamos ter ocasião de vos ver ao vivo? Por cá os nossos discos estão à venda na Trem Azul e na Flur, e noutras lojas de música experimental em vários pontos do globo.
Vão actuar em breve no Musicbox em Lisboa. O que é que o público pode esperar desse concerto de dia 06 de Novembro?
Iremos apresentar na íntegra o Land Garden com o Hernani Faustino e a Helena Espvall como convidados. Podem esperar uma viagem sonora e experiencial completamente diferente e nova do que estão habituados.
www.facebook.com/pages/Signs-of-the-Silhouette/165045896944237
Por: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro