À conversa com Vitorino Voador
Chama-se João Gil. Músico multifacetado que assume a capa de Vitorino Voador quando enfrenta o palco em nome próprio. Lançou recentemente um novo registo de originais, base para com ele trocarmos dois dedos de conversa.
Ficámos a conhecer-te melhor no inicio de 2013, quando falámos contigo a propósito do disco que tinhas lançado. Mas, para quem não sabe quem és define-te numa mão cheia de palavras.
Olá, sou o João Gil (não, calma, há mais do que um, sim, eu sei, pode ser confuso) e sou músico, toco numas quantas bandas, umas talvez tenham ouvido falar, outras talvez não e quando não estou a fazer música com essas bandas, visto o meu fato, ponho a minha capa, chamo-me Vitorino Voador e continuo a fazer música.
Aquele que à época foi o teu primeiro disco em nome próprio foi muito bem aceite tanto pelo público como pela crítica. O que te levou a enveredar por uma carreia a solo?
O que me fez começar a deitar musica cá para fora sozinho foi a necessidade de aproveitar toda a música que fazia quando não estava rodeado dos músicos com quem toco. Nunca fui muito de fazer música com objetivos, tudo o que sempre fiz foi pegar num instrumento e tocar pelo prazer de tocar, isso levou-me sempre a fazer musicas, algumas fazem sentido nos grupos em que toco e outras não, naquela altura eu estava numa fase em que compunha quase diariamente e nenhuma dessas músicas fazia sentido em qualquer uma das minhas bandas, mas fez sentido numa coisa só minha, assim nasceu o Vitorino Voador.
Mas continuas ligados a outros projetos, correto? Só assim te sentes completo enquanto músico?
Gosto de música, isso é o ponto principal. Gosto de música no geral, seja qual for o estilo, vai haver sempre alguma coisa que me atrai em qualquer estilo de música que me mostrem, vai haver alguma coisa que me vai despertar a atenção. É isso que recebo das minhas bandas, todas elas são bem diferentes e isso completa-me a 100%. As conversas com todos estes músicos, as ideias que eles trazem com eles tão diferentes das minhas mas que só me inspiram ainda mais, as viagens por aí fora a tocar, tudo isso faz de mim quem sou, não seria feliz nem completo se apenas fizesse só uma coisa.
Se o teu primeiro registo surpreendeu este não lhe vai garantidamente ficar atrás…
Falar sobre a minha própria música é sempre estranho… Eu espero que não fique atrás! Mas serão as pessoas a ter que dizer se sim ou não, para mim fez sentido o que foi feito, mas vou respeitar a opinião de cada um.
Sente-se aqui um trabalho mais aprofundado na composição. Concordas?
Talvez o disco transmita isso, percebo que as pessoas possam achar isso ao ouvirem o que lá está. Eu não sinto que tenha feito um trabalho mais aprofundado, no sentido em que possa ter estado mais tempo a trabalhar arranjos. As músicas foram saindo e o tempo usado nelas não foi muito diferente do EP anterior. O que houve e que sinto que foi diferente foi uma vontade de experimentar coisas novas que não tinha no EP.
Temos a sensação de que as músicas surgem como que encadeadas. Foi intencional?
É muito bom ouvir isso, porque a coisa que mais gostava era que as pessoas ouvissem este disco como se fosse uma história. Inicialmente, a história era para ser contada de uma forma um pouco diferente, mas tive a ajuda do João Correia Mendes (Capitão Capitão) que me deu uma ajuda muito grande e alterou o alinhamento que eu tinha pensado para o disco, o que fez com que a história também mudasse um pouco, na minha opinião, para melhor. Foi sem dúvida intencional.
De que fala “O Dia em que Todos Acreditaram”?
Tal como o EP anterior, este disco conta duas histórias paralelas, a do Vitorino Voador e a minha, gosto de separar as duas coisas. Na história do Vitorino Voador, este “acreditar” é sobre um mundo que acredita nele e que sabe que ele existe, confia nele e conta com ele. A minha história não é muito diferente, penso que as pessoas já sabem que cá ando (ainda que muitas delas, duvidosas em relação ao que faço) e que faça o que faça, que é feito com sinceridade. Poderia entrar agora por um lado ainda mais pessoal e contar o que cada uma das músicas representa mas acho mais bonito deixar que cada um se identifique com as músicas se gostar delas e que crie as suas próprias histórias.
Em que te inspiraste para dar vida a este trabalho?
Essa é a minha tarefa simples, inspiro-me no meu dia-a-dia, nas coisas que vivo, nas coisas que oiço e me marcam. Já fiz músicas porque me comovi a ouvir um senhor falar no meio da baixa, tal como já fiz músicas sobre um certo pôr-do-sol enquanto surfava. Se algo me fizer pensar mais do que alguns segundos ou se algo me fizer nem sequer pensar e me distrair de tudo o que está à minha volta, então vale a pena escrever sobre isso. Seja como for, são sempre coisas que de uma forma ou outra estão relacionadas comigo.
Escolheste o tema “Venha Ele” para promover o disco. Porque escolheste esta música?
Acho que é uma música que fica no ouvido, é simples e direta. Ter começado a tocar esta música na fase do EP também ajudou a tomar essa decisão, quando as pessoas vinham ter comigo nos concertos, esta era muitas vezes uma das músicas que vinha ao de cima.
Tens algumas participações de outros músicos no disco. Como é que aconteceram?
Aconteceram de uma forma bastante espontânea, não foi nada planeado. Quem participou está muito próximo de mim e isso foi bom, foi um disco que ficou sempre em família. O David toca comigo em YCWCB e disse-me uma vez que tinha gostado da música “Venha Ele”, convidei-o logo para participar no disco. O António Vasconcelos toca comigo em “Hombres Com Hambre” e foi uma das pessoas a quem mostrei as musicas mais cedo, como sabia que gostava das minhas músicas, convidei-o logo para gravar as baterias do meu disco. Como o disco tinha arranjos de cordas, convidei o Ricardo Jacinto (com quem já tocava com o Diego Armés) porque era sem dúvida dos violoncelistas que mais gosto de ouvir. Por fim, o José Castro que é mesmo família e com quem adoro tocar, tinha que participar no disco!
Falas em acreditar, és um homem de fé?
Tenho dias.
É importante acreditar? E sendo-o devemos acreditar em quê?
Acreditar é tudo, mas seria deus se dissesse às pessoas no que acreditarem. Posso apenas dizer naquilo em que acredito, na musica e nas pessoas que cá estão, são essas duas coisas que me fazem viver a vida e andar para a frente.
Onde quando vamos ter oportunidade de te ver ao vivo?
Os sítios ainda estão por confirmar, gostava de arrancar com esse planeamento das datas depois do disco sair, que será a meio de janeiro, mas quase de certeza que os concertos vão começar em fevereiro.
Leia também a conversa com Vitorino Voador a propósito do disco anterior em https://lookmag.pt/blog/vitorino-voador/.
Por: Sandra Pinto